Pages

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mas afinal...

Estive ontem na Editora Objetiva, no Cosme Velho, e me deparei repentinamente com "Força Estranha", belo livro de crônicas de Nelson Motta, em uma estante com diversos outros lançamentos da editora. Teria sido algo banal se ele não fosse justamente meu atual livro de cabeceira, adquirido em uma palestra com o próprio em 2010.

Enfim, mas o que isso tem a ver com a temática proposta aqui? Não haveria nada à primeira vista, também creio. No entanto, acabei me pegando num emaranhado de reflexões, somadas a minha incerteza quanto ao rumo deste blog (inclusive um motivo para ter passado semanas sem nada de novo), que me levaram especialmente a um ponto: por que tantos veem a crítica na arte somente através das formas que tem suas mensagens explícitas?

Sim, existe na cultura e na arte um vasto acervo que pode me provar o contrário. Grandes obras da literatura, da música, das artes plásticas, do teatro (guardo sempre um carinho especial por Brecht)... mas será mesmo que o político e o social estão na cultura como nas lindíssimas canções de John Lennon? Como nos versos de Maiakovski e nas fotografias de Sebastião Salgado? Talvez eu esteja soando meio avoado, mas a questão é: a que ponto a mensagem explícita está acima da interpretação que o espectador faz?

Na arte, o que mais se deseja, creio eu, é que quem se depara com sua obra capte o que você deseja transmitir. Não nego que gostaria de ser um artista também, podendo expressar para milhões o que penso e o que sinto, mas por que tantos parecem não criar a consciência de que tornar seu produto "flexível" - sujeito a se fundir com os pensamentos e sentimentos próprios do espectador - é uma medida benéfica para que ele abrace o que o artista produz? É um debate complicado; poderia citar até a Escola de Frankfurt e as teorias da indústria cultural, mas prefiro divagar e imaginar um diferente panorama, no qual os próprios espectadores também passariam por um maior exercício de interpretação e consciência crítica.

Depois deste emaranhado louco de pensamentos sobre a cultura e a arte, retorno para minhas referências iniciais: o livro de Nelson Motta e a temática do blog. O pensamento que me veio a cabeça ao correlacionar com o que estava pensando sobre a 'crítica explícita' foi: será mesmo que a cultura parece estar distante assim da crítica? "Força Estranha", por exemplo, não é uma publicação de crítica social e adota um tom bem-humorado e leve em crônicas curiosas. No entanto, não consigo deixar de pensar que histórias do cotidiano ou de situações inusitadas têm um potencial enorme para nos fazer refletir sobre o que vivemos, como vivemos e se estamos em um rumo correto.

A quem se aventurou a ler todo esse brainstorm, parabéns. Por que não fazer isso sempre? Observar as formas de cultura e arte com um olhar crítico? Tenho plena certeza de que seria bastante benéfico para uma mudança de consciência generalizada.

Aproveito e completo com a belíssima frase de Eleanor Roosevelt que li somente ontem, mas que me marcou: "Grandes mentes discutem ideias; mentes medianas discutem acontecimentos; mentes pequenas discutem pessoas". Vamos tentar ser grandes mentes? Vale pra mim também!

0 comentários:

Postar um comentário